quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Tá ruim, mas tá bom!

Para os apressados: momento de parar para ler uma crônica!
...
O relógio desperta pela terceira vez e em um sono impulsivo um dedo o desliga sem movimentar sequer mais nenhum músculo do corpo. Respirando fundo, pesa na cama. De súbito um sonho gritante o desperta: “estou atrasado”, concluiu o rapaz saltando da cama, vestindo ligeiramente uma perna da calça jeans e uma manga da camisa, enquanto escova os dentes e calça os sapatos. O café será no trabalho!

Corre pelo quarto, banheiro, corredor e salta para dentro do elevador deixando a jovem esposa desnorteada com a pressa do marido que mal consegue dar-lhe "um beijo de bom dia"!

Chegando ao estacionamento bate as mãos nos bolsos e percebe: “a chave do carro”. E lá vai o apressado como uma flecha de volta ao elevador, que parece demorar mais do que o normal para subir os três andares. Entra correndo, chama pela esposa que já está com a chave nas mãos e a recebe como um prêmio para continuar sua corrida ao trabalho como quem quer vencer uma competição.

Novamente o elevador parece ser uma máquina do tempo que o prende enquanto o tempo escorre lá fora, mas o rapaz determinado, agora com a chave, pula para dentro do carro e liga o motor enquanto coloca o cinto, verifica o retrovisor, solta o freio-de-mão e pisa no acelerador.

Na saída do prédio o rapaz percebe o fluxo exacerbado de veículos, que os impede de entrar na via, e se condena por não ter reagido ao estímulo do despertador no primeiro toque da manhã! Quando enfim um sinal amigável o permite entrar na correnteza de veículos guiados por outros apressados e prontamente ele agradece com o mesmo gesto e percebe que está prestes a encarar “um dia daqueles”.

Os trinta minutos que o separava do trabalho pareceram três horas em sua mente acelerada, que já calculava seus passos até a máquina do ponto de entrada, a do café expresso e até sua mesa, que já estava organizada em sua mente com todas as coisas para resolver durante o dia, já que demorou a dormir pensando nelas. Talvez, o motivo de seu atraso!

As vagas ao redor de seu trabalho já não existiam, encontrou uma à três quarteirões dali, uma pequena vaga. Melhor seria se pudesse encaixa-lo de lado, mas conseguiu uma baliza quase que perfeita e os quarteirões foram percorridos em passos largos! Ufa, em cima da hora, respirou aliviado com ar quase triunfante, se não fosse a enorme carga em seu peito, já que o tempo e as soluções são pequenos e os problemas imensos.

A manhã passou acelerada. O chefe o cobrou diversas vezes, o teclado do colega ao lado inibiu sua criatividade e o café: derramou na camisa azul claro.

O almoço, se é que pode ser nomeado assim, se deu por volta das 13 horas - uma hora depois do que deveria ter sido, com a duração de 15 minutos: 5 para chegar à padaria, 5 para engolir o lanche e mais 5 para retornar, sem tempo para cumprir a 1 hora e meia combinadas no contrato! E dá-lhe uma longa tarde sem fim. Olha no relógio, olha para os trabalhos desenvolvidos durante o dia, olha para o setor todo agitado e as horas não passam.

Ao fim do dia, com os pés latejantes dentro dos sapatos, o caminho até seu carro lhe aguardou com uma chuva muito forte, dando início ao corre-corre do mar de gente no centro da cidade. Chegou ensopado no carro, que ligou com dificuldade. O caos no trânsito estava estabelecido, muita água caia do céu e muita gente escorria apressados pelas ruas.

Chegando ao estacionamento do prédio o rapaz encosta a cabeça no volante do carro e em um minuto retoma as 10 ou 13 horas anteriores, o decorrer do seu dia. “É, foi ‘um dia daqueles’”, pensou um tanto esgotado e frustrado, horas de muita tensão e correria, nada até ali o havia dado um motivo para dar valor, precisava apenas de um banho e de cama, suplicou consigo mesmo.

Quando, ao levantar a cabeça do volante, percebe uma jovem linda com um sorriso delicado e encantador chegando às pressas com uma toalha em mãos. Ao se aproximar do carro, ela abre a porta para o marido e com uma doce voz sussurra: “teve ‘um dia daqueles’? venha aqui que vou te aquecer!”, estendendo a toalha cheirosa, macia e quente em volta dos ombros caídos do rapaz em um abraço reconfortante, o fazendo perceber que o único momento de valor do dia ele havia deixado passar!

“Bom dia”, disse dando um suave beijo na testa da esposa, como quem pede desculpas por não ter feito em tempo hábil o que realmente havia valor.

3 comentários: