quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A noiva da cidade: quando havia imaginação

Primeiramente gostaria de justificar tamanho afastamento do Bolha. Sabe como é, trabalho, último ano da faculdade, tcc e falta de coragem de escrever, coisas complicadas aí. Mas eu continuo aqui, só observando.

Ia falar das eleições, mas eu vou esperar ficar menos abismada com tudo o que tenho visto e ouvido por aí. Resolvi então falar de romance, já que é algo raro mundo a fora.

Estava escutando a música "A noiva da cidade" do Chico Buarque. A música faz uma alusão à cantigas de ninar, demonstrando uma certa inocência, talvez. Onde o eu-lírico vê a janela da  moça bonita aberta e fica imaginando como será que ela está vestida, como ela dorme, etc. Então comecei a me perguntar: onde está esse romantismo "inocente" hoje?

Já não é mais preciso imaginar. Os descuidos deixaram de ser uma janela aberta, para serem vídeos e fotos íntimas circulando nas redes sociais. Ou vivências de intimidade com paixões passageiras, que se vão e deixam marcas desnecessárias.

Então temos as famosas frases: "homens não prestam", "homens são todos iguais". Ok. Creio que nem eles neguem seus hormônios alvoroçados, mas se nós mulheres não lhes dessem a oportunidade tão fácil, eles ficariam apenas na janela imaginando. E sim, eles valorizam quando ganham a oportunidade de observar à distância.

Fiquei me lembrando da época que sofríamos pensando no ser amado, chorávamos com músicas românticas, escrevíamos o nome do amado nos cantos dos cadernos escolares e ficávamos pensando "será que ele(a) também pensa em mim?", mas isso logo passava e achávamos tudo uma besteira. Até encontrar um novo amor platônico e, por fim, até encontrar realmente um amor maduro que merecesse a intimidade. 

Hoje as músicas só falam de festa, "pegação", desapego e traição (com raras exceções). Assim, infelizmente, formamos crianças que pulam essa fase e se entregam à essas paixões passageiras tão rapidamente, não dando oportunidade nenhuma de imaginação. 

Tudo está às claras, sem mistério ou charme algum.

Tudo está tão fácil! Sem imaginações ou romances.

Só lamento bebês.

(A noiva da cidade - Chico Buarque)
Ai, como essa moça é descuidada
Com a janela escancarada
Quer dormir impunemente.

Ou será que a moça lá no alto
Não escuta o sobressalto
Do coração da gente.

Que papai tá lá na roça
E mamãe foi passear 
E todo marmanjo da cidade 
Quer entrar nos versos da cantiga de ninar 
Pra ser um Tutu-Marambá. 

Sabe lá se está vestida 
Ou se dorme transparente. 
Ela sabe muito bem que quando adormece 
Está roubando o sono de outra gente. 

E, que aqui ninguém nos ouça: 
Ela sabe enfeitiçar, 
Pois todo marmanjo da cidade 
Quer entrar nos sonhos que ela gosta de sonhar 
E ser um Tutu-Marambá.