quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Crítica: Whiplash




   Com cinco indicações ao Oscar desse ano, Whiplash - Em Busca da Perfeição chegou às telonas dos cinemas brasileiros somente na semana passada (8), e vem deixando boas impressões em seus espectadores. Aliás, o longa é comentado desde o começo do ano passado, quando fora premiado no Sundance Festival.

   Em Whiplash, Miles Teller (Project X, The Spectacular Now, Divergent) vive Andrew Neiman, um jovem baterista cujo objetivo é se tornar um grande músico do cenário jazzista. Estudante de um dos conservatórios de música mais conceituados dos EUA, Andrew é enfim selecionado para ser suplente na banda considerada elite da instituição. Tal banda é regida por Terence Fletcher (J.K. Simmons), um professor que não acredita na existência de limites quando o assunto é cobrar de seus alunos a perfeição, utilizando então de métodos nada carinhosos, leia-se, violência verbal e até mesmo física.

   O desejo de Neiman de se consagrar, ser uma lenda, acaba se tornando algo descontrolado, a ponto de, por exemplo, um relacionamento se tornar extremamente prejudicial para o seu progresso como músico. Andrew se encontra obsesso, derramando litros de suor e sangue para conseguir a titularidade na banda.


   Com roteiro e direção do jovem Damien Chazelle (The Last Exorcism Part II), Whiplash realmente mexe com as emoções e os nervos do público. Chega a ser difícil adquirir um ódio mortal por Fletcher, mesmo sendo ele um tremendo babaca em determinadas situações. O cerne da trama está em nos levar a pensar em até onde se pode exigir de uma pessoa para que ela se aprimore a ponto de ser eternizada.

   Elenco extremamente competente, a saber: Miles Teller mostrando a todos que sua carreira vai longe, J.K. Simmons simplesmente fantástico (merecidamente vencedor prêmio de Ator Coadjuvante no Golden Globe) e  outras peças já conhecidas, como Paul Reiser e Melissa Benoist. A trilha sonora - sob a responsabilidade de Justin Hurwitz - é impecável e merece total atenção nesse filme: os amantes do Jazz e da boa música agradecem.
 
   Dentre as indicações ao Oscar, Whiplash concorre aos prêmios de Melhor Filme, Ator Coadjuvante, Edição, Roteiro Adaptado e Mixagem de Som.

Nota de 0 à 10: 9.0

Ficha Técnica:

Whiplash
EUA , 2014 - 107 min
Drama, Musical
Direção: Damien Chazelle

Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Miles Teller, J.K. Simmons, Paul Reiser, Melissa Benoist

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A noiva da cidade: quando havia imaginação

Primeiramente gostaria de justificar tamanho afastamento do Bolha. Sabe como é, trabalho, último ano da faculdade, tcc e falta de coragem de escrever, coisas complicadas aí. Mas eu continuo aqui, só observando.

Ia falar das eleições, mas eu vou esperar ficar menos abismada com tudo o que tenho visto e ouvido por aí. Resolvi então falar de romance, já que é algo raro mundo a fora.

Estava escutando a música "A noiva da cidade" do Chico Buarque. A música faz uma alusão à cantigas de ninar, demonstrando uma certa inocência, talvez. Onde o eu-lírico vê a janela da  moça bonita aberta e fica imaginando como será que ela está vestida, como ela dorme, etc. Então comecei a me perguntar: onde está esse romantismo "inocente" hoje?

Já não é mais preciso imaginar. Os descuidos deixaram de ser uma janela aberta, para serem vídeos e fotos íntimas circulando nas redes sociais. Ou vivências de intimidade com paixões passageiras, que se vão e deixam marcas desnecessárias.

Então temos as famosas frases: "homens não prestam", "homens são todos iguais". Ok. Creio que nem eles neguem seus hormônios alvoroçados, mas se nós mulheres não lhes dessem a oportunidade tão fácil, eles ficariam apenas na janela imaginando. E sim, eles valorizam quando ganham a oportunidade de observar à distância.

Fiquei me lembrando da época que sofríamos pensando no ser amado, chorávamos com músicas românticas, escrevíamos o nome do amado nos cantos dos cadernos escolares e ficávamos pensando "será que ele(a) também pensa em mim?", mas isso logo passava e achávamos tudo uma besteira. Até encontrar um novo amor platônico e, por fim, até encontrar realmente um amor maduro que merecesse a intimidade. 

Hoje as músicas só falam de festa, "pegação", desapego e traição (com raras exceções). Assim, infelizmente, formamos crianças que pulam essa fase e se entregam à essas paixões passageiras tão rapidamente, não dando oportunidade nenhuma de imaginação. 

Tudo está às claras, sem mistério ou charme algum.

Tudo está tão fácil! Sem imaginações ou romances.

Só lamento bebês.

(A noiva da cidade - Chico Buarque)
Ai, como essa moça é descuidada
Com a janela escancarada
Quer dormir impunemente.

Ou será que a moça lá no alto
Não escuta o sobressalto
Do coração da gente.

Que papai tá lá na roça
E mamãe foi passear 
E todo marmanjo da cidade 
Quer entrar nos versos da cantiga de ninar 
Pra ser um Tutu-Marambá. 

Sabe lá se está vestida 
Ou se dorme transparente. 
Ela sabe muito bem que quando adormece 
Está roubando o sono de outra gente. 

E, que aqui ninguém nos ouça: 
Ela sabe enfeitiçar, 
Pois todo marmanjo da cidade 
Quer entrar nos sonhos que ela gosta de sonhar 
E ser um Tutu-Marambá.